Luiz Gê é paulistano, pioneiro dos quadrinhos modernos brasileiros, arquiteto de formação e artista múltiplo por amor às linguagens, especialmente as visuais.
Inicia com desenhos da fase pré-Balão e Balão, que foi uma revista fundada na USP em 1972, um verdadeiro movimento na área dos quadrinhos. Esses desenhos marcam o final dos anos 1960, como a chegada do homem à lua, usando spray, o que preconiza a técnica do grafite que surgiria décadas mais tarde.
Da guerrilha gráfica na revista Balão, passa pela imprensa alternativa, pela grande imprensa com a geração de jornalistas que deram o prestígio ao jornal Folha de S.Paulo, antes muito menos influente. Atua na charge política em plena ditadura, pelas artes gráficas, edição de arte dos anos 1980, pela revista Circo, que levou o quadrinho brasileiro às bancas, numa experiência infelizmente ainda não repetida. Passa também por uma incursão pela música, com capas de CD, eventos e óperas e a intersecção de linguagens, como nos trabalhos Caçador de Crocodilos e Tubarões Voadores, histórias em quadrinhos com trilha sonora.
Há a experiência dos quadrinhos e do humor nos mais diferentes meios, como no da ilustração, na publicidade, na divulgação institucional, no teatro, na animação. E, por fim, há uma amostra de experiências e pesquisas em realização, sendo que parte delas de natureza acadêmica, na Universidade Presbiteriana Mackenzie, onde leciona.
Três obsessões acompanham o trabalho desse artista: o retrato da realidade urbana de São Paulo, do qual foi o precursor, a reconstituição histórica que surge nos quadrinhos e nas ilustrações e a experimentação e a fusão de linguagens, começando com a da HQ.
Para concluir, pode-se dizer que mostrar o trabalho de Luiz Gê é propiciar um panorama que reflete e expressa um conjunto de atividades artísticas, jornalísticas e culturais no Brasil, que vem acontecendo desde o início dos anos 1970 até os dias de hoje.