Presidente Reis Parte 1
Após 20 anos de ditadura, com a indústria esfacelada, uma inflação de 300% e que ultrapassaria 2000% o país se via às voltas com líderes novamente impostos como Tancredo Neves e José Sarney escolhidos por um limitado ‘colégio eleitoral’ (e logo depois com Fernando Collor, apadrinhado da rede Globo). Com uma boa dose de antevisão, que nem sempre significou para Luiz Gê um aspecto exatamente favorável, começou a desenvolver as peripécias de um poeta “tão bom, tão bom, que fora nomeado presidente da república” e a tira começa com o seu ‘enterro’. Ora com a tira já em estado avançado de produção, morre Tancredo e Sarney, o poeta, autor do livro Marimbondos de Fogo, assume a presidência. Por dias e dias as cenas do enterro de Tancredo se repetem na TV de uma forma muito semelhante à da tira. O leitor pensa, evidentemente, que esta se tratava de um comentário sobre o ocorrido, o que gera uma expectativa e uma interpretação que não tinha necessariamente relação exata com esses fatos e caminha de acordo com a sua própria trajetória anteriormente elaborada. Isso, naturalmente gerou certa confusão, embora, no geral, a tira realmente se centrava e ironizava, já antes do ocorrido (!), a questão de completa falta de liderança, de legitimidade, de instabilidade dos líderes, o que ocorria naquele momento e que infelizmente mostrou ser um profundo problema em nosso país, como os anos seguintes vieram demonstrar.